(Uma metáfora sobre o fazer teatral)
Tudo começou quando alguns habitantes de Outrora, uma longínqua cidade de um passado remoto, receberam um estranho convite: conhecer em viagem secreta um país de nome Desconhecido. Os convites foram entregues de forma misteriosa em suas casas, colocados em belos envelopes. Grande parte dos habitantes de Outrora não deu muito valor à informação que ali continha. Alguns, porém, ficaram extremamente intrigados.
Na data e na hora combinada, um grupo especial de moradores aguardava na praça da cidade de malas prontas. Todos ansiosos pela viagem, viram chegar de longe um velho conhecido nas redondezas pelos habitantes mais antigos. Querido por muitos, o velho tinha fama de louco, mas muito, muito sábio. Tão sábio que era muitas vezes incompreendido pelos cidadãos de Outrora, o que o fez afastar-se mais e mais da cidade, morando não se sabe onde.
O ancião iniciou seu discurso, dizendo que depois que se afastou de Outrora, iniciou grande peregrinação por países e reinos jamais vistos por aquele povoado, que conheceu terras férteis, ares frescos, águas cristalinas e céus de um indescritível azul. Resolvera então voltar e convidar os habitantes de sua querida cidade para uma viagem a um país fantástico. E que tratara de fazer o convite a todos para que não houvesse discriminação, mas que sabia que a viagem não era para todos e que mesmo alguns que estavam ali, não chegariam ao fim da jornada. Advertiu-os de que o caminho era longo e a viagem nem sempre seria prazerosa. Mas que o prazer de conhecer um mundo novo, valeria mais do que qualquer ouro do mundo. Terminou dizendo que aqueles que quisessem segui-lo, que o fizessem tranquilamente. Virou as costas e seguiu caminhando para o lugar de onde veio.
Alguns moradores se entreolharam e disseram ser loucura segui-lo, voltaram a suas casas e retomaram o curso de sua vida. Outros decidiram segui-lo e foram com ele até que chegaram num vale verde, onde havia no chão, grandes e belos tapetes. O ancião pediu que subissem e que segurassem uns nos outros, que a primeira parte da viagem seria pelo ar. Uns acharam loucura e não subiram nos tapetes, outros sentaram, seguraram-se e iniciaram um delicioso vôo. Sentindo o vento no rosto, todos estavam muito felizes. Menos os que tinham medo de altura. Estes pediram que a viagem parasse e que o tapete os descesse até o chão, pois não mais seguiriam. Deixados alguns no caminho, seguiu o tapete por muitas horas em alegre flutuar até chegar numa linda praia.
Após pousar na areia, o ancião pediu para que entrassem no barco que estava ancorado na beira da praia, advertindo que a partir daquele momento, a viagem seria mais dura. Eufóricos com o que havia se passado, todos entraram no barco sem medo, que iniciou viagem pelo mar, que logo deixou de ser tão calmo. Ondas gigantes balançavam o barco de lá para cá, que por muitas vezes parecia que afundaria. Muitos se perguntaram por que haviam escolhido a viagem, talvez estivessem mais felizes em suas casas então. Mas pouco havia a ser feito. A viagem seguiria até que, no momento certo, o barco ancorou. Muito decidiram voltar para casa a pé. Mas a viagem já estava no fim.
O ancião mostrou-lhes grande montanha, cujo pico não se podia enxergar. Avisou-lhes que o país Desconhecido ficava no alto daquela montanha e que restava apenas a subida, para que pudessem ter a mais bela de todas as visões e a mais agradável das sensações. Os que não desistiram, seguiram com ele e pouco a pouco foram atacando as paredes da montanha e chagando cada vez mais alto. Em dado momento, o pico já estava à vista, o que lhes dava extrema ansiedade e vontade de chegar lá no alto. Muitos ainda tinham medo do que viria. Finalmente o pico estava próximo. Todos subiram olharam o mundo e não puderem conter as lágrimas quando viram.
Do alto da montanha, centro do país Desconhecido, topo do mundo, se podia avistar belas paisagens, respirar um ar tão puro, ouvir o canto dos mais belos pássaros. A sensação de prazer, de estar no topo do mundo, era algo nunca imaginado por aqueles homens e mulheres, tão felizes e realizados por seus feitos. Tão contentes por não terem desistido no caminho, mesmo após tantas dificuldades e medos que enfrentaram. Todos sorriram, se abraçaram e sentiam que dali em diante, nunca mais seriam os mesmos.
Ao voltarem para Outrora, os habitantes que ali ficaram, perceberam que algo de estranho havia entre os que voltaram da viagem. Todos eram mais felizes e tão amigos uns dos outros que chegou a causar inveja em alguns habitantes. Outros arrependeram-se de não terem seguido, ou desistido no meio do caminho, pois era evidente que aquilo que viveram nas terras de desconhecido era algo fantástico, e o que sentiam era uma das melhores sensações que alguém poderia sentir.
Prometera o ancião, antes de desaparecer, pelas esquinas de outrora, voltar novamente para outra viagem a Desconhecido. Mas ninguém sabia quando seria. Haveria outra viagem. Quando? Ninguém podia responder...