Após longa viagem, poucos foram os que restaram. Muitos ficaram pelo caminho, seja por medo do tapete voador, por não suportar a tempestade e pelo esforço imposto pela escalada. Havia, porém, um grupo de viajantes que, embora exaustos física e mentalmente, seguiam ansiosos por atingir o pico.
O topo da montanha já estava visível e, embora quisessem muito se aproximar de lá, muitos de paralisavam por medo do desconhecido. Todos estavam juntos, contudo, e se chegaram até ali, atingiriam o topo de uma forma ou de outra. E chegariam todos juntos, já que foi desta forma que chegaram até ali.
O Ancião resolveu falar. Há muito havia se calado e quando quebrou o silêncio o espanto tomou conta de todos.
“Embora estejam com medo, e a primeira visão do pico pode parecer assustadora, lembrem-se de tudo o que passaram para chegar aqui. Tudo foi uma preparação para a melhor das sensações. E a surpresa maior virá quando olharem para trás. Despeço-me aqui de vocês. Fiz tudo o que eu podia e agora a alegria da vitória é algo que deve ser compartilhado com os amigos. Saibam apenas nunca mais serão os mesmos. A escalada não chegou ao fim. Mas daqui para frente, vocês seguem sozinhos; ou melhor, sem mim, já que a partir de agora, possuem uns aos outros...”
Dito isto, como num passe de mágica o ancião desapareceu. O medo tomou conta do coração dos viajantes, que buscaram auxílio nas mãos de seus colegas. Respiraram fundo e seguiram o curso da subida, que já não era sofrimento. Havia, vez por outra, um ou outro tropeço de um companheiro, que era generosamente amparado pelo amigo do lado. Até que, quase sem perceber, o alto da montanha já estava sob seus pés.
Imensidão era só o que viam. O mundo todo: terra, céu, mares, tudo podia ser visto. Mais do que isto, tudo parecia possível de se realizar a partir de agora. O que mais não poderiam realizar se chegaram até ali com seu próprio esforço? Perceberam que o impossível era apenas uma desculpa para não se tentar. E prometeram uns aos outros, ali, no topo do mundo, com toda a alegria que aquele momento lhes trazia, que sempre buscariam o impossível. E não menos do que aquilo.
A tarde vinha caindo e o sol se pondo. Era o momento de retornar. Já esfriava e muitos se questionavam como voltariam para casa, já que estavam sozinhos. E foi neste instante que um dos heróis que ali estava olhou para trás, por sobre seus ombros e percebeu que tinha algo em suas costas, e nas costas dos outros também. Misteriosamente, belos pares de asas haviam nascido em suas costas. Agora podiam voar. E já sabiam como voltar para casa.
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