O ano de 2013 para o Grupo
Brinquedo Torto foi um ano de muito trabalho e muito aprendizado. Nunca se
trabalhou tanto. Foram dois espetáculos em temporada, festa de cinco anos,
documentário, livro lançado, mais de 40 alunos divididos nos dois núcleos, chegamos
próximos à marca de 100 alunos-atores que já se apresentaram pelo grupo,
participação no II Festival Fundação das Artes de Teatro Estudantil com
excelente avaliação da crítica especializada, um público estimado de 1000
pessoas atingido, muita reflexão e transformação pela arte. E é importante
lembrar que estamos falando de um grupo estudantil, composto por adolescentes,
não se trata de um grupo profissional. Observando sob este prisma, os números
chegam a assustar.
Gran Circo Pimienta 2.0, espetáculo
carro-chefe das comemorações de aniversário do grupo, estreou no dia 10 de
Março, dia em que completávamos 5 anos de vida e o resultado não poderia ter
sido melhor. Espetáculo revisitado e aprimorado, banda ao vivo, núcleo de
acrobática e mágicas enriqueceram o espetáculo que tinha casa cheia
praticamente todos os dias. Uma remontagem que em nada deixa a desejar em
relação à primeira e que a supera em alguns fatores. Nas conversas pós
espetáculos, afinal era "impossível sair de lá sem conversar e ir comer
uma pizza", digeríamos juntos com o público o produto artístico que
consumíamos. Sempre, nestes momentos, ouvíamos falar da importância e do
impacto social do projeto. Gran Circo foi reflexo nisso e trouxe em seu bojo
"A Jornada de Zé Burrego na Terra dos Inúteis."
"Zé Burrego", como
carinhosamente chamamos, foi também um espetáculo de grande envergadura.
Pesquisa corporal, máscara neutra, texto e canções compostas por um Núcleo de
Dramaturgia composto por alunos e uma ex-integrante, responsável pela direção
musical de um elenco que cantava e tocava; cenário e figurino muitíssimo bem
cuidados; um elenco alegre, bem entrosado que dava conta de uma mensagem e uma
estrutura narrativa complexa. Dois espetáculos de qualidade, muita coisa dita
sobre eles:
"Teatro de gente
grande"
“(...) um certo ar de megalomania, sem o qual não seria possível sequer
vislumbrar o resultado que se sucedeu. Uma peça teatral, um processo
pedagógico. O crescimento dos atores-educandos, num processo teatral como
ferramenta pedagógica, e o resultado-espetáculo como pedagogia social.”
“A gente vê teatro,
estuda teatro, faz teatro, mas assistir a "fenômenos teatrais" como
esse são raros.”
“Já dizia Ferreira Gullar: ´A
arte existe porque a vida não basta.' Este grupo dá sentido a esta frase"”
“ um coletivo rico
e potente.”
“Enfim, é um espetáculo que nos
enche de esperança num futuro melhor para o mundo. Um espetáculo
que nos deixa encantados”
Mas nem tudo são flores. O ano nos reservou grandes dificuldades, talvez
algumas das maiores da nossa história. Elenco, após três anos de trabalho, em
fase de transição e fim de ciclo necessitou de atenções especiais em virtude de
conflitos pessoais e coletivos próprios da idade. Um revés também nos abalou: não
fomos selecionados para o FETO, seria a primeira vez que o grupo seria
selecionado dois anos seguidos; foi uma grande frustração, que nos gerou energia para a criação de um novo projeto: “Potência”,
intercâmbio cultural entre nós, os grupos Trup´iê (Diadema), Colibri e Tatu
Bola (Pará de Minas) e Pégasus (Florestal – MG). E como foi duro conseguir
recursos para essa viagem, produzida sem qualquer apoio institucional. Todos os
grupos envolvidos fizeram das tripas coração até que finalmente todos os
recursos estavam disponíveis. Mas na véspera, um motivo de força maior,
daqueles trágicos e inesperados impossibilitou-nos de viver aquela experiência.
Dessa forma, a 1ª Edição do Projeto Potência aconteceu em Pará de Minas sem nossa presença e foi
digna e belamente realizada por nossos irmãos mineiros.
Este acontecimento trágico encerrou nossas atividades em 2013. Não
tínhamos mais forças nem condições mentais e emocionais de prosseguirmos. Até
mesmo a apresentação do Núcleo de Iniciação foi cancelada. Há coisas contra as
quais não podemos lutar, e embora o show tenha que continuar, a vida precede o
show, e em certos momentos é preciso antes viver, parar, respirar, chorar um pouco
para depois secar o rosto e só então voltar aos palcos. Não foi o final que
gostaríamos de ter tido, nem o que planejamos para um ano tão produtivo, mas foi aquele escrito pelo Maior
dos Dramaturgos e, como personagens de sua peça, aceitamos e cumprimos nosso
papel, não nos restava alternativa.
Houve muita tristeza e dificuldade. Como diziam meus professores, “Teatro
é duro” e só fica quem é do ramo. O ano de 2013 acabou, mas toda a vivência,
todo o aprendizado fica e não pode ser desconsiderado. No final, após
encerrar-se de cada temporada, é ele também que permanece: o crescimento, o
aprendizado, a evolução ou como quiserem chamar. E no frigir dos ovos é isso o
que importa. Afinal, fazemos teatro para sermos pessoas melhores e para, quem
sabe, através disso, contribuirmos para a formação de um mundo um pouco melhor.
E que venha 2014 com novos desafios, mais um processo de renovação,
grandes planos, grandes aprendizados, espetáculos, canções e o que mais de
positivo pudermos desejar.
Agradeço profundamente a cada integrante do elenco, principalmente aos que
se despedem do grupo, e a todos que nos acompanharam em nossa jornada: Carol Tello,
preparadora corporal e irmã que não tive, Roberta Conde, cenógrafa e
figurinista (amor de minha vida), Cleide Evelin, aluna, amiga do coração e
compositora de mão cheia; Leandro Souza, cúmplice e carregador de piano, Edson
Negrita, professor de Ukulele e Guilherme Góes, professor de rítmica, dois
parceiros que conquistamos este ano (Estejam sempre conosco!), a Renato e Sila Rocha da ABID, à direção do
Colégio Central Casa Branca e a nossos amigos mineiros dos grupos Colibri e
Tatu Bola, em especial a meu irmão Rony Morais e sua equipe (Gleison,
Wellington, Renato, Dian, Sormano, Inês e toda turma). Não posso esquecer das famílias que sempre nos apoiaram. Nosso muito obrigado!
Feliz 2014 e muita merda! RESPEITO! UNIÃO! GARRA! DISCIPLINA! AMOR!
Varlei Xavier
Varlei Xavier
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