sábado, 31 de maio de 2014

Do meio do caminho



Aqui venho eu postar informações sobre este novo processo e refletir sobre o ano que estamos tendo. Lá vem Junho e chegamos no meio do ano. Meio do caminho para nós. Acho que já é hora de dar notícias. 


"No mundo judaico antigo, um de cada sete anos era destinado por lei ao repouso compulsório. A terra não podia ser cultivada, as dívidas se extinguiam, os escravos conquistavam a liberdade. Não era permitido sequer colher os frutos das árvores. Terminado esse período, conhecido como ano sabático, tinha início um novo ciclo de vida.

Nos dias atuais, o sabático está de novo em evidência, mas agora com um novo significado, de caráter pessoal. A ideia básica ainda é realizar uma pausa prolongada antes de uma nova etapa. Mas já não se trata apenas de deixar a terra inculta. A meta agora é cultivar o espírito, para que algo novo floresça.


(...) os adeptos do sabático abandonam afazeres e responsabilidades para mergulhar dentro de si mesmos, em uma jornada de redescoberta e reinvenção."

Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2013/05/periodo-sabatico-e-uma-opcao-para-quem-quer-se-descobrir-4141304.html

Desde o fim de 2013, entramos em período sabático. Era preciso refletir, repensar e reinventar-se. Não seria fácil. Além disso, tínhamos a certeza de que um ciclo na história do grupo havia se fechado. Nada seria mais como antes. Foram três anos desde o início daquela geração que estreou com "Guerreiros Meninos", passou por "O Carteiro de Bonecas", "Gran Circo 2.0" e despediu-se em "A Jornada de Zé Burrego na Terra dos Inúteis". A renovação seria um processo, não repentina e abrupta, mas lenta e trabalhosa.

Assim começou nosso 2014: Com uma oficina-teste para a formação do novo elenco. Como todo teste pelo qual passa o grupo, seu objetivo não é separar o bom do ruim, conceitos discutíveis. O teste é apenas um momento para cada integrante observar o que lhe espera e acontece quase uma auto-seleção. Desta vez não seria diferente, mas seríamos muito mais rigorosos. Não gostaríamos de repetir fórmulas e erros do passado e para isso, era preciso que fôssemos sinceros, duros e verdadeiros com quem viria. 




O novo é assustador. A primeira semana foi bastante tensa e dos 12 inicialmente inscritos, a auto-seleção reservou-nos 6 nomes para o novo elenco, sendo metade (3 integrantes) remanescentes da geração anterior. Um grupo que há anos vinha se acostumando com elencos de 18, 20 pessoas, mostrava-se então reduzido a um terço do que antes era considerado normal. Foi difícil para todos nós encarar uma mudança tão radical. Muitas dúvidas, perguntas e algumas revoltas vinham à mente de todos: elenco, equipe, direção. Era difícil entender e reconhecer o próprio grupo. Nada seria realmente como antes. 



Em meio a conflitos e lutas iniciaram-se os trabalhos e o primeiro alento veio com a leitura de uma cena escrita por Miguel Tescaro, ator que pertenceu à geração que terminava e que assumia a dramaturgia do grupo. Uma cena forte como queríamos. Vínhamos de duas comédias e era importante mudar o universo de pesquisa. Logo o ensaio pegou fogo. Vieram outras cenas e o fogo se alastrando. Fomos percebendo o que nos movia a contar aquela historia: nós mesmos, nossa própria jornada de renascimento. Nosso próprio período sabático. Mais uma vez falávamos do próprio grupo.  


Gente nova chegou no meio do processo, precisávamos de mais um ator e uma musicista. Eles vieram e finalmente chegamos à configuração ideal do grupo. Novamente havia um grupo, uma nova sintonia vinha sendo criada. Uma nova identidade coletiva vinha sendo desenvolvida. Eram horas de discussão e debate acerca de nossa história, do tema proposto e de questões relacionadas. Estávamos prontos para finalmente começar a levantarmos o espetáculo. Mais um momento de conflito. 

Não era um texto fácil. Cheio de nuances e particularidades, tem sido difícil resolver questões técnicas, de compreensão da proposta e execução por um elenco em sua maioria inexperiente. E é um trabalho longo, árduo e que não se solucionará em um passe de mágica. Mas a magia tem se dado por meio dos valores do grupo: RESPEITO por si mesmo, pelo grupo e pelos parceiros; UNIÃO, um grupo menor, mais próximo, coeso; GARRA e força de vontade para executar tudo o que é pedido; DISCIPLINA, a cada dia com horário, com as faltas que hoje quase não existem, com a roupa de ensaio, sempre preta; AMOR por si próprio, pelo trabalho, pelo grupo, pela arte. Tudo executado com retidão.

Resultado: um cronograma feito já prevendo problemas, mas foi cumprido à risca. Nesta semana marcamos a última cena de um espetáculo que estreia apenas em Setembro. Ou seja: temos tempo suficiente para atingirmos a profundidade de que precisamos. Nunca havíamos conseguido cumprir cronogramas desta forma. Sempre havia faltas, atrasos, textos não memorizados e todo o tipo de imprevistos, que não ocorreram desta vez. Era isso que buscava no início do ano. Um elenco realmente comprometido com o ideal do grupo, com o processo de montagem, com a arte. Que se dane a experiência, ela se ganha, técnica se adquire, se desenvolve, mas essa dedicação é difícil de conseguir. Mesmo que se peça, se implore, só acontece se as pessoas envolvidas realmente quiserem e estarem dispostas. E hoje todos estão. Os ônibus "atrasam" menos, cada um sabe de suas responsabilidades, pouca gente fica "doente" ou tem "compromissos inadiáveis" na hora do ensaio. É até engraçado dizer isso. Mas sinto orgulho deste elenco apenas por eles cumprirem seus deveres da maneira que cumprem. Só isso já me deixaria orgulhoso independente do resultado a que chegássemos. 

E nesta quinta feira, durante a marcação da última cena, a magia aconteceu. A ficha caiu. A história que contamos finalmente veio à tona. Enquanto o elenco marcava a última cena, músicos e direção acompanhavam emocionados cada fala, cada gesto cada lágrima que caía do rosto daqueles 7 heróis, que com suas mãos vinham reconstruindo a história do próprio grupo através daquela metáfora. Foi um dos momentos mais marcantes que vivi nestes 6 anos de jornada. Terminada a última música, fiz algo de que não me lembro ter feito outra vez num ensaio, na marcação de uma última cena: aplaudi aqueles meninos, e fui até a cena dar-lhes um beijo na testa por aquilo que haviam criado: uma sintonia profunda. A emoção tocou uma das atrizes e todo o elenco deixou-se tocar também, puro jogo, relação profunda entre ator-ator-equipe-plateia. Revisamos mais algumas cenas, havia muitas questões técnicas a serem resolvidas, mas parei para assistir o elenco realmente atuando, defendendo seu personagem, reagindo a tudo o que os outros faziam. Entendi então que finalmente renascíamos. Éramos novamente fortes, diferentes do que já havíamos sido, mas incrivelmente fortes. Tive a certeza de que #Tudocomeçapelofim cumprirá digna e lindamente seu papel.

Mas estamos no meio do caminho. O período sabático ainda não terminou. Continuamos blindando o processo e quem está de fora pouco ou absolutamente nada sabe sobre a história que estamos contando. Permaneceremos assim por mais algum tempo. É salutar. Tem nos feito bem, para que mudar agora. Precisava apenas realizar esta postagem aqui como um marco. Chegamos ao meio do caminho. E que venham mais desafios. Estamos prontos. 













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